quinta-feira, 4 de junho de 2020

O Palco

Eu sigo pensando em algo que dizer... Mas o que dizer diante de tantos números catastróficos, oriundos de uma sociedade doente?

Se tirarmos uma foto da sociedade a cada 500 anos no passado, veremos que houve evolução. Sim. Mas diante de tamanha revolução tecnológica nos últimos 100 anos, esperávamos também uma revolução cultural.

Ainda estamos discutindo RACISMO. Sim, porque falha-se em aceitar que isso existe e é estrutural na melhor das hipóteses. Na pior, se revela em forma de assassinato.

Ainda estamos discutindo MACHISMO. Falha-se em aceitar que está perpetuado no íntimo de cada homem e mulher, declarado em cada risada de uma piada infeliz que denigre a imagem feminina e passa despercebida, até culminar com estupro sem culpados e feminicídio.

Ainda estamos discutindo HOMOFOBIA, simplesmente porque há um grande grupo de pessoas que se incomoda com a felicidade alheia. E eventualmente, esse incômodo vira ódio e culmina na morte de um gay a cada 19h, só no Brasil.

Ainda estamos discutindo o dever do estado sobre as CLASSES MENOS PRIVILEGIADAS. Não porque a escalada da classe média seja menos digna ou fácil. Não é. Mas tal classe batalha para chegar em algum lugar, enquanto a outra batalha para não sair do lugar. Sem batalha, o destino implacável é a fome.

E ainda nem começamos a discutir a falta de respeito e de responsabilidade sob crianças e adolescentes, que seguem desgovernados por famílias disfuncionais e um estado que não acolhe, e que dentro de sua vulnerabilidade não conseguem formar grupos para gritar por si mesmo. Tal privilégio é reservado aos adultos.

E se abrirmos a porta, ainda tem tantos outros grupos para serem incluídos aqui. Menores, ou ainda mais vulneráveis.

De quantas mortes estamos falando, afinal? Ou de vidas arrasadas?

A negação de alguns é fruto do horror de abrir os olhos. Mas de tantos outros, é pura ruindade, pois são os vetores do problema. Não existe oprimido sem opressor. Existe quem pode escolher entre fazer o bem ou o mal. E existe quem só pode escolher entre sofrer calado ou aos gritos.

Respeito quem adota o silêncio como aliado. Eu também o faço por vezes. Apenas tenhamos ciência de que enquanto o silêncio não agride, ele é palco.

E os atores, estão todos lá. E sempre estarão. Ódio, egoísmo, poder e vulnerabilidade. Todos juntos e grande elenco.

Esse show precisa acabar. Sem palco não tem show.

Marina Casadei

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