segunda-feira, 11 de julho de 2011

Diário de Bordo – Parte V: A ROTA, NEVER ENDING JOURNEY

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A aventura nunca termina.
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Em Londres, enquanto tomava um lanche em uma cafeteria, observei um quadro com o desenho de três montes de chocolate com açúcar, imitando os Alpes. Na mensagem, dizia que aquele estabelecimento já havia mudado a receita de seu brownie mais de 30 vezes e que ainda não haviam encontrado a medida certa de riqueza, umidade e chocolatisse e que, como todas as nobres aventuras, chegar lá é metade da diversão.
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A ROTA
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Londres: cidade grande, cheia, tráfego intenso, organizada, bastante povoada com nativos e franceses. Pessoas apressadas, porém amigáveis e educadas. Parques pequenos e bonitos, muitos museus, arquitetura, pubs e dance clubs. Ônibus vermelhos de dois andares, cabines telefônicas vermelhas e um prato cheio pra quem quiser ir as compras. Curiosidade: quando se pede informação, eles mandam você fazer tudo a pé e diz que é só 5 minutos (mas na verdade, são 45). Atração favorita: Trafalgar Square.
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Paris: cidade grande, bagunçada, ligeiramente suja, estrangeiros de todas as partes do mundo e muitos batedores de carteira, especialmente na Torre Eiffel (tomem cuidado). Pessoas de cara amarrada, mas que se você mandar um Bonjour e falar inglês em seguida, eles o ajudam de boa vontade (ô povinho sistemático). Não conheci a night life, mas recomendo o culto de tomar cerveja na beira do rio. Tem construções muito bonitas, robustas e cheia de detalhes. Atração favorita: Arco do Triunfo.
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Barcelona: cidade litorânea, praia cheia e convidativa, arquitetura particular de Gaudi, ruas e arruelas estreitas como em filmes de terror, uma completa bagunça, batedores de carteira em todo canto, povo bastante amigável e caloroso, mas pouco educados em função até mesmo da grosseria típica do idioma.  Night life AMAZING – recomendo. Atração favorita: Park Guell. Segunda atração favorita: os homens; até mesmo estrangeiros parecem que ficam mais atraentes lá.
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Zürich: é a maior cidade da Suíça, mas ainda assim pequena se compararmos a uma São Paulo. Extremamente organizada, limpa, linda, paisagem incrível, beleza natural e divina. Apesar de toda essa perfeição, ainda encontrei bitucas de cigarro na rua, acreditam? Pessoas educadas,  reservadas, dispostas a ajudar e tranquilas; na verdade, quase nem tem pessoas lá. Para quem procura relaxar, contato com a natureza, para quem gosta de belezas naturais, é sem dúvida uma ótima escolha. Para quem quer agito, não recomendo. Curiosidade: quase não há marcas estrangeiras por lá e quase tudo possui o sêlo de fabricação própria “Swiss”; mais incrível que o chocolate suíço, o leite suíço é o melhor. Tome leite puro quente e frio se for a Suíça! Atração favorita: O Lago de Zürich, na ragião de Richterswil.
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Minha viagem foi incrível! O Diário de Bordo não termina por aqui, pois prometi ao leitor contar em fatos claros e reais o que vivi em Manchester. Sinto que a história ainda não acabou. Talvez nunca venha a acabar. Ou talvez, até tenha acabado. Mas nem todos os pontos finais da nossa vida são bem claros e demarcados como a oitava série, o início da vida universitária ou a aposentadoria.
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Me sinto outra, mas não acho que a viagem me transformou. Sinto que eu vinha vivendo transformações há anos. Além disso, agora realizei todos os sonhos e planos que tracei para até o final da minha vida acadêmica. Isso significa alguma coisa grande, pois agora posso partir para o futuro sem pendências com o passado.
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De agora em adiante, posso dizer que aceitei meu amor como meu ponto fraco e que não quero mudar isso. Posso dizer que quero ser feliz sem a ilusão de que felicidade é estar explodindo de alegria a todo momento. Sobrou de mim a minha integridade, meu amor, minha timidez e meu metodismo. Também posso dizer que continuo não entendendo como a sociedade funciona, mas não com o mesmo inconformismo de antigamente. 
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Never ending journey. O encontro com a realidade é meu desafio. Meus sonhos são a minha razão de viver. E a ânsia de fazer com que as duas coisas caminhem juntas é o que me move, a cada dia, nessa jornada sem fim.   
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Marina Casadei
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domingo, 1 de maio de 2011

Diário de Bordo – Parte IV: A LISTA DE APRENDIZADOS

Bem, finalizo aqui a primeira etapa da minha viagem! Terminei o curso de inglês em Manchester e agora, estou seguindo para uma nova cidade: Londres. A aventura continua!

Eu não esperava viver tanta coisa aqui. Dois meses, emocionalmente falando, valeram como um ano inteiro. E como mencionei na publicação anterior, me sinto cansada. Não saberia hoje dizer se estou triste ou feliz. Coisas tristes aconteceram e é um alívio estar partindo. Mas a idéia de partir é sempre dolorosa. Em alguns momentos, sinto um aperto no coração e vontade de chorar. Me sinto muito confusa.

Vou dedicar meu próximo artigo a esclarecer em fatos reais minha história ao leitor. Chega de artigos abstratos! Só quero um pouco mais de tempo para refletir e falar sobre isso quando chegar um momento em que o tema não me machuque mais. Quero contar uma história e não desabafar minhas mágoas!

Por hora, segue a lista de todas as lições que aprendi aqui, em dois meses. São coisas óbvias, mas é diferente quando você realmente vive algo que te faz aprender. Marca seu espírito. Sua mente. E você cresce, em todos os sentidos. Você não precisa se recordar de uma lista de aprendizados, você simplesmente passar a viver isso.

Dos arrependimentos:

1) Muitos dizem que é melhor se arrepender de algo que você fez, do que algo que não fez. Quer saber? Deleta isso do seu cérebro! NUNCA se arrependa de nada, nem que fez, nem que não fez.

2) Nunca se arrependa de algo que você fez: se o resultado não foi bom, ao menos você sabe que resultado foi esse e pode até tirar uma lição disso.

3) Nunca se arrependa de algo que você não fez: normalmente, isso acontece porque sonhamos com aquilo que poderia ter sido. E realmente, acreditamos que seria do jeito que pensamos. Isso é uma das maiores peças que nossa mente nos prega: julgamos a realidade pelo sonho. Por isso, não sofra por algo que sua mente criou. Se você decidiu não fazer, seja feliz assim.

Do orgulho:

4) Não deixe que o orgulho atrapalhe suas relações. Quando isso acontece, sentimos nosso coração pesado. Quando nos libertamos (de verdade) do orgulho, sentimos a alma leve. Mesmo que quem está em volta não mereça, pense que você merece. Seu espírito merece essa leveza.

5) Seja humilde com você mesmo. Ainda que você queira fazer o seu melhor, reconheça seus limites e saiba a hora certa de parar. Você é humano, diga isso pra si mesmo.

Da entrega:

6) Dediquei um artigo inteiro a esse tópico, mas quero reforçar: uma vida bem vivida é feita de entregas. Então entregue-se. Você pode até se machucar, mas ao menos, você viveu. Se não é para isso que estamos aqui, então… (não preciso completar, né?)

7) Você é humano. Não diga isso para si mesmo como defesa para ser ordinário, ou livrar-se do trabalho ao qual deveria se dedicar. Entregue-se aquilo que fizer e dê o melhor de si. Nunca nos arrependemos de chegar até os nossos limites.

8) Confie em você mesmo!

 

Das expectativas:
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9) Não criar expectativas é sempre a melhor opção. Mas, se você criou, seja cauteloso na hora de avaliar o resultado. As vezes, não é o destino que está errado, é a expectativa. E as vezes, não é que o destino é maravilhoso, é a expectativa que era ruim. Esse não é um exercício fácil!

Bem, essa é minha breve lista. Londres, aí vou eu!!!!!


Marina Casadei
When everything is made to be broken, I just want you to know who I am
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domingo, 10 de abril de 2011

Diário de Bordo – Parte III: A ENTREGA


Muita coisa aconteceu em quatro semanas por aqui. Toda a nossa vida é repleta de altos e baixos e todo mundo sabe disso. Mas quando se está vivendo uma vida que não lhe pertence pela eternidade, isso é uma montanha russa em altíssima velocidade.

Nas últimas quatro semanas, experimentei sentimentos como paixão, amor, amizade, alegria, raiva, depressão, tristeza e injustiça. Hoje é um lindo domingo ensolarado e eu me sinto tão fraca que mal posso levantar da cama. Brincar de montanha russa por muito tempo faz isso com a gente!

Em quatro semanas eu ri muito e me diverti muito. Mas ao mesmo tempo, experimentei sensações estranhas como frustação. É algo como a ressaca após a bebedeira. Durante a bebedeira tudo é maravilhoso, mas poucas horas depois, vem o enjoo e a dor de cabeça. E isso acaba com você.

Conforme minha irmã me falou nesse fim de semana, pessoas de outros países não se sentem iguais as outras. Por exemplo, se no seu cotidiano você vê alguém chorando, mesmo que você não tenha sentimentos por essa pessoa, você se sente mal com a situação. Você deseja que essa pessoa fique bem. Quando se está em outro país, com pessoas totalmente diferentes, é como se você estivesse assistindo um filme. Como se não estivesse envolvido com aquilo.

Nesse momento, o que eu sinto é como se tivesse tido sonhos e pesadelos esse tempo todo. Sinto que nada que aconteceu foi real. Sinto que estou assistindo um filme.

Isso faz eu me dar conta que no início da minha viagem cometi um erro grave e inocente. O erro de acreditar que isso pudesse ser real. O erro de me entregar a essa vida como parte da minha vida eterna, em vez de entender que, nesse momento, eu estou abduzida.

Mas, afinal, eu sou a garota que sonhava por alguma razão! Eu sou a menina que pensa que o mundo é bonitinho e que se alguém tenta abrir meus olhos, eu não quero ver. Eu sou a mulher determinada que não tem medo de enfrentar o que quer que seja. E eu me entrego. Eu me entrego a pessoas, eu me entrego a momentos, eu me entrego a vida. Porque pra mim, uma vida bem vivida é feita de entregas.


Esse é meu mundo. Essa sou eu. E muitas vezes, isso dói. Mas se eu acordar para realidade, não sei se conseguirei continuar respirando. Porque, se não for para ser assim, intenso, de coração aberto e sempre voltando suas ações pra aquilo que é nobre, se não for pra ser assim, não acredito que valha a pena ser.

Marina Casadei

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segunda-feira, 14 de março de 2011

Diário de Bordo – Parte II: DESCOBRINDO QUE O CÉU É AZUL

Manchester, UK. Exótico, medieval, colonial, frio. Um tanto quanto estressante – não para mim, mas para quem vive. Um tanto quanto rica e voltada para o trabalho. Uma São Paulo inglesa! Claro, com todo o louvor do trânsito invertido e dos ônibus de dois andares. Mas, a meu ver, a única diferença entre São Paulo e Manchester é o fato de que em Manchester as casas são vermelhas.

Se acostumar com o ambiente e o ritmo de vida aqui foi bastante fácil. Me sinto muito familiarizada com tudo, como já vinha sentindo antes. Mas como dizem, a primeira sensação ao chegar a um país estranho é querer voltar. Isso é verdade. Tenho certeza que o fato de saber que são apenas dois meses ajuda a controlar a essa sensação, pois preciso aproveitar o máximo num espaço curto de tempo, então não há tempo para reflexão.

As pessoas continuam me dizendo que eu tenho um bom inglês e eu continuo achando que elas só estão sendo educadas. Eu consigo me virar bem e em geral, ajudo os meus dois amigos que tem mais dificuldades – me sinto a própria Hermione, nerd e toda certinha, junto de Harry e Ron, especialmente no dia que visitamos a velha biblioteca de Manchester, era como a cena em que os três personagens sobem as escadarias de Hogwarts pela primeira vez. Nós temos nosso dialeto próprio para conversar, apelidamos de FIBenglish – ou, Dialeto Anglo-Franco-Ítalo-Brasilliense. Vem do inglês, mas posso assegurar que não é a mesma coisa.

No mais, para minha surpresa e decepção, os homens são todos iguais em qualquer parte do mundo. Algumas diferenças intrínsecas a cultura têm que ser colocadas na mesa. Por exemplo, no que diz respeito a educação, os europeus são bem mais rigorosos – pra se ter uma idéia, os meninos acham as pessoas aqui mal educadas; eu as acho bem educadas. Outra coisa, é que eles normalmente vão morar sozinhos quando vão para faculdade, então isso obviamente traz alguma maturidade. Mas no mais, o que posso dizer de vantagem em relação àquilo que não suporto na maioria dos brasileiros, é que a idéia de infidelidade realmente não é bem vista na cultura deles e para eles, sexo e oxigênio têm importâncias diferentes na vida de um ser humano. De resto, só muda o endereço e o idioma. Adoram futebol, são distraídos e olham pernas o tempo todo!

Acho que poderia finalizar por aqui, deixando minha mensagem de protesto aos cidadãos do sexo oposto. Mas não posso acabar o texto sem mencionar que um Pub Inglês é algo realmente fantástico! Já começo a sentir saudadea. Cheiro de madeira, chope servido no balcão, arquitetura colonial, alguns com mesa de bilhar, outros não. Alguns com o teto baixinho (eu quase posso tocar), outros não. Muito frio do lado de fora e muito quente do lado de dentro. Boa cerveja. Pessoas... Amazing people around!



Marina Casadei
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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo – Parte I: PEDAÇOS NA GAVETA


Fazer as malas para uma viagem longa é algo intrigante. Primeiro porque você não tem a menor idéia do que realmente vai precisar. Segundo, porque você provavelmente não vai usar metade do que levou e vai sentir falta de metade do que deixou. Bom, ao menos isso mostra que você tem 50% de assertividade!


Como mulher analítica e avessa ao estereótipo que sou, fiz questão de levar apenas uma mala e manter ainda espaço de sobra para carregar tranqueiras que eu venha a adquirir. Não tenho muito para gastar, mas se eu não fizer sequer uma comprinha, nem poderia me chamar de mulher!

Fiquei duas semanas preparando a mala. Cada peça de roupa me rendia horas avaliando praticidade, funcionalidade e estética. Desde a manhã chuvosa a caminho da escola até a festa exótica na faculdade foram filmes passando pela minha cabeça! E claro, testei todos os meus sapatos e calças com o maior número de meias possível para decidir o que valeria mais a pena carregar. Me pergunto se esse cuidado todo seria influência de ser secretária, a experiência de ter trabalhado com projetos ou eu que sou chata mesmo (não respondam).


Mas cada peça que deixei era como deixar um pedacinho precioso de mim. Um pedacinho que um dia me aqueceu ou me deixou mais bonita. E eu amo cada um desses pedaços, assim como amo ver o Pico do Jaraguá da janela da minha sala. Ou, amo dirigir de manhãzinha pelos viadutos e avenidas de São Paulo. Amo ver a São Paulo antiga grafitada na 23 de maio. E amo sentar no vão do MASP quando meus pés já estão cansados de caminhar pela Paulista.


Não posso levar nada disso na mala! Mesmo uma foto não seria suficiente para retratar o sentimento, pois a ação está associada a paisagem. O momento vivido só existe no presente.

Não tenho medo de pisar num país estranho onde ninguém fala minha língua. Desconheço o funcionamento do transporte coletivo, a culinária, o tratamento com as pessoas, o frio do inverno inglês e nada disso me assusta.

O que eu realmente tenho medo, voltando ou ficando lá, é de não pertencer a lugar algum, pois deixei pedaços meus em cada canto do mundo. Pedaços intangíveis, que não se pode carregar na mala.


Marina Casadei
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domingo, 30 de janeiro de 2011

Diário de Bordo – Introdução: ENFRENTANDO TREVAS E DRAGÕES

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Meus últimos meses foram de silêncio. Chamo de silêncio o período no qual não consigo escrever. E a razão disso é que não queria encher a cabeça do leitor com minhas últimas reflexões, que me fizeram desejar esquecer tudo aquilo em que acredito. De repente, cansei de defender idéias que não têm lugar na sociedade. Integridade, justiça, vitória do bem sobre mal. Tais idéias só têm lugar no mundo dos sonhos.

Cada ano que passa, cada dia, cada experiência, me sinto como se estivesse sendo puxada para o outro lado, onde o senso de integridade é só mais um jogo hipócrita. E lamentei o fato de pertencer ao lugar que estou. Se tiver que dizer qual o laço que me une, não terei uma resposta certa.  

Sonhar não é só dormir e se libertar do corpo. Sonhar é uma longa jornada, enfrentando trevas e dragões. Isso me traz a recordação da Princesa Sara, do Cavalo de Fogo. Me pergunto porque não fazem mais desenhos como aquele, que instigava as crianças a acreditar em algo que realmente vale a pena: sonhos são possíveis e integridade está acima de tudo.

Por esse motivo, eu gostaria de convidar o leitor a me acompanhar em uma viagem de verdade! Dentro de um mês, deixarei o país para fazer o intercâmbio com o qual sonho há seis anos. Serão dois meses fora, tempo suficiente para me deixar bastante apreensiva, já que tenho responsabilidades aqui.

Ao mesmo tempo, é como se já estivesse vivendo lá. Fico imaginando coisas e tenho receio de criar expectativas demais. Tenho receio de encontrar uma estrada de pedras quando espero flores. Tenho uma porção de receios. E não vejo a hora de pegar o avião e descobrir o que vai acontecer.

O destino, bem, não é muito diferente do senso comum. Mas, pra que falar disso agora... Ainda estamos na primeira página.



Marina Casadei

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