domingo, 15 de agosto de 2010

Amostra de poesia

Quando criei o blog, fui motivada pela descoberta de quem eu era anos atrás.
Decidi voltar a escrever, algo que já não fazia há seis anos. Decidi que tudo que publicaria seria criação nova, pois temia me tornar escrava do passado e a idéia era justamente voltar a produzir.

Bem... Voltei a produzir. Mas as novas criações pertencem a minha atual realidade. O que era do passado, continuou guardado.

Resolvi tirar algumas amostras do baú.


Anseios
O mar é uma fuga
Para quem foge do transtorno
A dança é lágrima de quem já não a tem
O pano encobre formalidades do mundo que a possuiu
A beleza é vista em seu oposto por culpa do velho costume
A beleza, então, é sonhada
Como súplica da alma, disfarce da amargura
O mar físico tranqüiliza
Mas a vida formal continua pedinte de um abraço
Nesse momento, quero esquecer que sou humana
Ser alma, pó, delírio.


Marina Casadei, em 17 de abril de 2001

O peixinho do céu

Um peixinho criou asas
Criou asas e voou
Para o intenso azul do céu
Onde é o mar que ele sonhou
Quanto a sua natureza
Ele não se preocupou
Só queria a aventura
E no céu se aventurou
Sem pensar nas atitudes
Com a vida ele brincou
Contra todos ele agiu
Contra o vento ele voou
Percebendo a solidão
Passarinhos procurou
Não achou nenhum igual
Com amigos não ficou
O peixinho arrependeu-se
Já sabendo onde errou
Sem esperar um só minuto
Para o mar ele voltou
Chegando, percebeu
Sua natureza, ele trocou
Sem céu, também sem mar
Sem lugar ele ficou
Mas sabia o que fazer
E no mar se afogou
O lugar onde viveu
O intenso azul que amou
Como o mar também sentia
Seu amor o perdoou
E o peixe inconformado
Pela morte suplicou
Virando anjo do mar
Ali continuou
Protegendo suas águas
Onde a vida o colocou.



Marina Casadei, em 07 de fevereiro de 2001.

Saudade de ser poeta

Que saudade tenho do tempo que eu era poeta
Inocente, alegre, otimista
Sem muitas escolhas
Sem auto-piedade
Sem muita teoria pra me indignar

Que saudade tenho do tempo que eu tinha certeza
Sem saber porquê
Sem saber pra onde
Sem saber de quê
Eu tinha certeza daquilo que eu era convicta

Que saudade tenho do tempo que nada sabia
Nada sabia da vida
Nada sabia da morte
Nada sabia do amor
Naquele tempo, era mais fácil sonhar

Que saudade tenho do tempo que nem vi passar
Pessoas vieram
Pessoas se foram
Quando foi mesmo?
Nada mudou desde então.

Marina Casadei, hoje.
A recordação e a saudade são puramente sinceras.

Cálida lembrança

Que a lua testemunhe minha clama perdida
De chamar em vão um nome falso
Que um dia alguém ouça esta prova
De um mar que sem água existia

Minha alma pede, implora, sufoca
Que esquecida seja tal viagem
Onde um barco se destruía em tempestade
Onde a lua aquecia a areia

Mar doce, seco e abandonado
Me ouça, me ajude, me carregue
Use a tempestade pra banhar-se
E naufrague meu barco em tuas águas

Que termine deste jeito esta viagem
Num naufrágio, e que eu descanse na areia
Que inexistente, seja o mar esquecido
Mas que lembre a lua minha história de tristeza

Marina Casadei, em 02 de março de 2001

Noite e dia

Toda noite
Lá no céu
Tenho um sonho
Com você
Todo dia
Aqui na Terra
Vivo a vida
Com você
E todo dia
Lá no céu
Sonho a vida
Com você
E toda noite
Aqui na Terra
Vivo um sonho
Com você


Marina Casadei, em 16 de julho de 1998