quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Se todo mundo andasse pelado

Lembro-me de começar a questionar o uso de roupas quando tinha quinze anos. Desde que o assunto brotou em meus pensamentos, nunca mais deixou de vir à tona. Não que eu tenha saído por aí a expressar minha opinião... Mas o ato de questionar se tornou um hábito para mim, embora viva em uma sociedade onde predomina o conformismo.

Assim nascemos: desnudos, isentos de maldades, de ganância, de pudores morais, de conceito de certo e errado. E assim como nos colocam roupas sem explicar o que isso significa ou perguntar o que pensamos a respeito, valores são impostos em nossa vida, sem que possamos fazer nada para nos defender. As roupas são, tão somente, o primeiro ato do alienismo social.

E assim como as roupas são aceitas, aceita-se o “viver como reza a sociedade” sem se dar conta de que tudo poderia ser o avesso daquilo que é.

Não questionamos a disposição da sociedade, apesar de saber que há 300 anos vivíamos a Sociedade Estamental. Não questionamos nossa TV apesar de saber que o único objetivo dela é ganhar dinheiro. Não questionamos a Instituição Familiar, apesar de saber que, no passado, casava-se com primos para manter o dinheiro familiar. Não questionamos o uso de roupas apesar de saber que há apenas 500 anos vivia-se pelado no Brasil.

Parece até que vejo a sociedade do futuro usando máscaras coloridas, com estampas combinando com a roupa, com brilho e muito luxo. E a boca, então, será mais um órgão genital sem que ninguém se pergunte como, quando e porque é assim.

Se todo mundo andasse pelado, talvez fôssemos menos hipócritas, menos soberbos, menos falsos e alienados. Ou talvez, fosse tudo exatamente do jeito que é.

Esse meu pensamento pode soar um tanto agressivo e fora da realidade. Bem, para mim, conformismo é que é um ato fora da realidade. E a única coisa que me conforta é a certeza de que não sou a única louca no mundo, há pelo menos 2.500 anos.
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Marina Casadei


“Eu não posso entender tanta gente aceitando a mentira de que os sonhos desfazem aquilo que o padre falou. Porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo...”
Raul Seixas

“Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo prefiro acreditar no mundo do meu jeito...”
Renato Russo

"- Por que foi que cegamos?
- Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão.
- Queres que te diga o que penso.
- Diz.
- Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem.”
José Saramago

“Aquele que aceita alguma coisa da escrita como se ela pudesse ser clara e confiável, deve certamente possuir uma mente simplória”
Platão


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