domingo, 25 de julho de 2010

A Visão

Hoje ouvi a seguinte a expressão:

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"a diferença entre um ponto e ele mesmo é a forma como ele é visto"

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Expressão esta que, a meu ver, reforça a teoria da relatividade.

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No instante e na circunstância em que ouvi, dei um breve passeio pelas minhas memórias e lembrei certo momento em minha vida no qual ela cairia perfeitamente.
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Certa vez, um amigo meu resolveu me testar. Éramos muito crianças ainda e ele estava bastante inseguro com relação ao julgamento que eu poderia fazer da sua própria vida. Ele me convidou para acompanhá-lo a resolver um problema e enquanto ele tratava da burocracia, fui dar uma volta. Combinamos de nos encontrar 15 minutos depois e ficamos mais de uma hora esperando um ao outro. A praça onde marcamos de nos encontrar era redonda. Eu fiquei parada atrás de uma pilastra acreditando que, por alguma razão, ele havia ido embora sem mim. Ele estava na outra pilastra, acreditando que eu havia ido embora, fugido dele pelo motivo que ele estava ali, me testando.
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Eu nunca teria perdoado se ele me largasse em um lugar desconhecido, àquela altura da noite. Ele, jamais me perdoaria se confirmasse sua insegurança. E mesmo com a certeza de que havíamos sido abandonados, continuamos esperando.
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Depois de voltar desse devaneio, tive que encarar mais uma vez o fato de que não importa quem somos, ou ainda, quem parecemos ser. Sempre seremos aquilo que o observador quiser. O tímido para alguns, é metido para os outros; o inteligente, é arrogante; o engraçado, é imaturo; o vaidoso, é fresco; e por aí vai. Todos somos humanos e assim, oscilamos em nosso comportamento. Por isso mesmo, se quisermos ver algo (bom ou ruim) em alguém, vamos encontrar uma forma para isso.
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E era exatamente isso que eu vivia na forma de um pedido para ser mais séria! Bem, quem me conhece, sabe o quão séria eu sou. Não preciso provar isso – definitivamente, não preciso.
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E assim, me senti inválida diante dos olhos do mundo e do julgamento da humanidade. O que eu podia fazer? Nada. Nada, além de cuidar para que a minha visão não fosse doente como a dele.
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Ao chegar em casa, recebi um texto que falava exatamente sobre a forma de ver as coisas. Os olhos do poeta que vê poesia onde qualquer um veria pedra. E depois disso, fui arrebata por um turbilhão de pensamentos. E me deixei levar.
 
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“parecer é mais importante que ser” Platão
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“nos deram espelhos e vimos um mundo doente” Renato Russo

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“Cegos que vendo, não vêem” Saramago
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“Se você tiver que lembrar alguém que você é, você não é” Margaret Thatcher
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“Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém” Renato Russo


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Trechos diversos que considero axiomas das minhas crenças, muitos deles já citados aqui.
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E aquela espera que existiu entre eu e o meu amigo, poderia ser um abandono, poderia ser um ato de preconceito, de fraqueza, poderia ser um ato de falta de maturidade ou consideração. Mas independente de todos estes modos de ver aquele momento, nós fizemos a única coisa que deveríamos fazer um pelo outro: esperamos. Incondicionalmente, esperamos.
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É por isso que eu gosto de dizer dele alguém que o acaso provou ser muito mais do que um amigo, porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos, nem fomos mais do que crianças.
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Essa sou eu. Poeta, sonhadora. E é justamente por isso que esse mesmo alguém me chamou Marina, a garota que sonhava.

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Marina Casadei
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F. Pessoa, a quem me atrevo a utilizar as palavras para completar minhas expressões
R. Russo, pela magnitude que não sou capaz de descrever o quão suprema é
A. Ferreira, pelo texto cuja oportuna coincidência me inspirou a escrever
Thiago, pelo amor incondicional
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E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, a outra metade também.
Oswaldo Montenegro