sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando a Rede Globo e a vida se misturam

Uma das práticas mais absurdas com relação a mídia é o jornalismo que isola um caso de violência urbana até esgotar o assunto frente aos tantos mil casos da mesma violência que estão registrados em fontes seguras.

Um caso de negligência no trânsito foi recentemente apresentado e estressado pela Rede Globo, seguida pelas demais emissoras de TV. Na versão da história apresentada, trataria-se de um caso de assassinato! Simples assim.

No instante em que vi a notícia na minha casa, comentei “essa história está mal contada”.

Na mesma semana, descobri que uma colega minha era amiga do “réu”. Ela me contou a verdadeira versão da história, na qual uma seqüência de coincidências, seguidas por um acidente de trânsito, ocasionado em função da negligência de ambas as partes, levaram a tragédia. Além disso, ela ainda contou que o caso estava em tamanha evidência na TV porque um parente da vítima trabalhava na Rede Globo.

Algumas semanas depois, o caso caiu no esquecimento. Obviamente, depois de ter sido solucionado pela polícia, a TV não se atreveria a admitir para o Brasil inteiro que a versão deles "não era bem a verdade". Ainda mais porque um parente da vítima trabalhava na Rede Globo!

Quando pensei que ninguém mais tocaria no assunto, descobri que outra colega minha era amiga da vítima! Ela me contou a versão da família da vítima e como todos estavam revoltados e arrasados com tal tragédia. E confirmou ainda a existência do tal parente que trabalhava na Rede Globo.

Fiquei bege!

Mas apesar da ironia, meu objetivo com esse relato não é voltar a julgar o caso. Isso é trabalho da polícia. E se a polícia faz um bom trabalho ou não, isso já é problema do governo.

O meu papel nisso tudo é justamente cobrar do governo que o meu país, o meu estado e o meu município, sejam bem administrados. Que tenham um código penal eficaz e uma polícia ativa e coerente. Independente do que qualquer mídia fale.

Afinal, que país pode julgar um caso isolado de negligência no trânsito, quando esse mesmo país é consciente de que a escravidão e a exploração sexual estão tão próximas e nada se faz para mudar?

Todos nós somos réus e vítimas ao mesmo tempo. E nesse tribunal, o julgamento não deveria estar à mercê dos interesses da mídia. Principalmente quando não temos um parente que trabalha na Rede Globo para nos defender!

Marina Casadei
.
.