terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Os outros...

Acho que o grande problema do mundo é que as pessoas olham pra si quando deveriam olhar para os outros.

E claro, olham para os outros quando deveria olhar para si.

(...)

domingo, 29 de novembro de 2009

O curioso caso de Benjamin Button


Nada termina como começa. Independente de como termina ou de como começa.

A verdade é que o tempo passa para todos.



Quando assisti O curioso caso de Benjamin Button pela primeira vez, não soube o que dizer. Eu estava no cinema com uma amiga e ela perguntou “o que você achou?” e eu respondi “não sei”. Ela perguntou “você gostou?” e eu repeti “não sei”.


Geralmente, baseio minhas opiniões naquilo que sinto em relação as coisas. E nesse caso, eu não conseguia entender o que havia sentido. Era algo como uma indiferença, mas que não era indiferente, porque eu não podia ignorar. Era vazio, mas um vazio cheio de algo desconhecido.


E pelo menos um ano depois, assisti o filme pela segunda vez. E já nas suas primeiras cenas, pude entender o que eu havia sentido no passado. Percebi que o desconhecido era, na verdade, uma identidade. A sensação de solidão, de otimismo, de tranqüilidade ao olhar para a vida, as descobertas que a rua nos traz, a pureza, a isenção de maldade, o perceber o quão as pessoas importam pelo que a perda delas representa, o dizer adeus, o apaixonar-se, as estranhas coincidências, a vida que cruza o caminho e deixa sua marca, a energia do mar.


Essa identidade também é o tempo passando. A vida correndo toda dentro de seu sistema biológico. E por mais que eu me sinta só uma poeira dentro desse sistema, as vezes sinto que o Universo se encerra nos meus olhos.


E então, eu me lembro da máxima de René Descartes Penso, logo existo.


E me lembro do memorável Álvaro de Campos quando diz Não sou nada, a parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo.


E as vezes, não sei distinguir o que é real e o que não é. E penso que não sei adotar um comportamento social porque não sei identificar as barreiras do cultural, emocional e da essência espiritual. Me sinto incompreendida, tentando imitar a sociedade para pertencer a ela, sem saber quem sou.


Me sinto o patinho feio. Me sinto Benjamin Button.


Marina Casadei

domingo, 22 de novembro de 2009

Presente

Nada como ver o nascer do sol
Num dia sem propósito.
E ver seus raios tocarem cada folha de árvore,
Cada grão de areia
E sua imagem refletida na praia
Como um grande espelho.
E quando o vento tocar em meu rosto
Sorrirei para ele em forma de gratidão.
E nesse dia, vou olhar para trás
E acreditar que tudo que passou, passou
E nenhum segundo voltará mais.
E vou erguer a cabeça e olhar para frente
Ciente de que o futuro nada mais é do que a ilusão da humanidade.
E nesse instante, vou firmar meus pés no chão
Ainda que seja na areia fofa
E ter a certeza de que existo
E que estou ali
Fazendo o meu presente acontecer.


terça-feira, 27 de outubro de 2009

1, 2, trêêês, 4!

... se eu acredito em um mundo que não existe, é porque acredito que o ser humano é capaz de amar incondicionalmente. E quem ama não fere, não mente.

Qual seria o sentido da vida se não fosse viver esse amor?

Então, eu pergunto: que mundo é mais real? O meu, ou o daqueles que duvidam?

Marina Casadei

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domingo, 4 de outubro de 2009

Antes do Passado

O presente e o passado são nomes que o Homem determinou para designar fases do tempo que ele conhece, conheceu ou descobriu. Já o futuro, costumam dizer que a Deus pertence, porém, é tão somente mais uma denominação que representa uma fase que o Homem ainda não conhece. Partindo deste princípio, o que será lido agora poderia até ser chamado de futuro. Mas ocorreu antes! Antes, mesmo, do passado que os homens conhecem. A pedidos:

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Era mais um dia de sol quente e brisa levemente fria, como todos os dias daqueles tempos. Era uma época em que noite e dia não existiam. Também não existiam estações do ano, nem contagem do tempo, nem céu ou inferno. Era um período de criações e descobertas. Nesse tempo, o próprio Ser não era definido como coisa, pessoa ou estado.

Nesse dia especialmente belo, um garoto estava sentado à beira do rio. Era um rio raso, cuja água não ultrapassaria os joelhos de qualquer ser humano comum. As suas margens eram envoltas por diversos tipos de vegetação e árvores muito altas, repletas de folhagem, proporcionando sombra e paz a quem ali permanecesse. E foi nesse lugar tranqüilo e ao som sereno das águas que tudo começou.

O garoto observava o fundo do rio. Via a areia clara e muitas pedras. Algumas eram pequenas rochas que poderiam até mesmo machucar o pé de alguém. Outras pedras eram menores, algumas brancas, outras rosas, outras ainda douradas e algumas tão cristalinas quanto as águas que ali corriam.

Ele admirou-se com tantos diferentes tipos de pedras e colheu algumas em sua mão. Percebeu que podia enfeitar-se com elas, que podia combinar uma com a outra, desenhar imagens coloridas como num mosaico e ficou horas brincando com as pedras. Queria-as para si, mas depois de cansar de brincar, devolveu todas elas ao rio. Antes de deixar o local em direção a sua aldeia, apreciou o rio em voz alta:

- Ó doces águas, como fizestes a partir de nada coisas tão belas. As palavras são poucas para explicar tal sentimento, mas digo que queria ser como ti. Que queria poder produzir em mim os belos enfeites que produzistes em você.

O rio lhe sorria e suas águas brilhavam ainda mais.

Ele retornou a sua aldeia. Logo, encontrou seus amigos e quis dividir com eles aquele momento que viveu com o rio.

- Meus caros, preciso compartilhar com vocês o que senti ainda há pouco. Penso que devemos homenagear alguém com o que eu senti.

E o Ciúme exclamou:

- Sim! Conte-nos. Todos merecem uma homenagem advinda de sentimentos puros e espontâneos.

E o garoto contou a experiência que tivera com as pedras do rio, como se divertiu com elas e o quanto as desejou para si. Contou ainda que desejou ser como rio, se transformar em rio só para ser capaz de produzi-las. E finalizou mencionando o quanto o rio ficou agradecido e lisonjeado por seu sentimento. O rio estava feliz por contribuir para o contentamento de alguém e satisfeito por ser reconhecido.

- Isso é maravilhoso! Já senti isso diversas vezes, mas nunca fui capaz de reconhecer que era um sentimento diferente e como faria bem para os demais se eu o demonstrasse – falou a Sinceridade.

Todos do grupo se sentiram presenteados pelo novo sentimento.

- É uma nova descoberta! Estamos falando de algo que já sentimos, mas que só agora foi reconhecido, porque eu também já senti – comentou o Tempo.

- E vamos dar o nome em homenagem de quem, para esse sentimento? – perguntou o Ciúme

- Eu pensei em homenagear a Inveja. – falou o autor da descoberta – Ela possui aparência cristalina como o rio, está sempre correndo, como as águas do rio, possui cabelos ondulados, como o movimento da água e possui olhos coloridos e brilhantes, como as pedras do rio.

- Eu? E eu mereço tamanha homenagem? – falou surpresa, a Inveja.

- Ah, sim, minha querida. Esta e muitas outras que ainda virão – falou a Sinceridade.

A Inveja ficou muito contente e não sabia como agradecer. Abraçou a todos fraternalmente. Não conseguia conter sua alegria e dizia a cada um que os amava como a ela mesma.

Ao ouvir tal exclamação, a Sinceridade lembrou-se que esse sentimento de amor recíproco que um tinha pelo outro era mais uma das descobertas daquele mesmo garoto que acabara de descobrir o sentimento de inveja. Então virou-se para ele e disse:

- Eu sinto inveja de sua sabedoria! Você nos traz tantas coisas novas, descobre, cria, recomenda atitudes... Eu queria ser como você.

Ele agradeceu, um tanto encabulado. Gostava de dar às suas descobertas o nome das pessoas, como uma homenagem, mas nunca dera a nenhuma delas o seu próprio nome. Era muito humilde, talvez tímido. Não esperava receber nada em troca, nem mesmo o reconhecimento. Ainda mais dela, que lhe era muito especial.

- E eu queria poder ser tão sincero e sentir tanta coragem quanto você – foram suas palavras.

Os dias passaram e num dado momento, o garoto decidiu que iria caminhar mais longe. Ele gostava de buscar coisas novas e levar para aldeia. Sentia que isso fazia bem a todos. Queria sentir outras águas, talvez outras plantas e outros seres de todos os tipos. Tinha sede de aprendizado. Ele também queria um tempo para ficar só. Quem sabe, encontraria alguma coisa, como quando encontrou as pedras do rio, para lhe ajudar a se entender melhor.

A viagem correu bem. Não se pode dizer se foi longa ou curta, pois como era uma época atemporal, não se tinha medida do quanto havia passado. A longevidade era sentida pela quantidade de coisas que aconteciam dentro um período. Para o viajante, não havia sido tanto tempo assim. Mas para quem ficou, havia passado muito, muito tempo.

Ao retornar para a aldeia, ele teve dificuldades de reconhecer o local. Parecia tudo tão diferente. Não havia o mesmo ar fraterno que outrora e ele não foi recebido pelos seus amigos, como de costume. Caminhando pela aldeia, estranhou alguns comportamentos. Rostos tristes, construções desnecessárias e pedras coloridas decorando todos os cantos.

Não entendia nada. Até que, finalmente, avistou a Sinceridade. Correu até ela e lhe deu um forte abraço, sem ser correspondido. Ele olhou fundo em seus olhos, segurou seus ombros e lhe disse:

- Por favor, me abrace.

Ela começou a chorar.

- Vá embora! É melhor.

- Você quer que eu vá?

- Jamais. Mas é o que você deve fazer.

Ele continuava estático, sem entender. Nesse momento, pôde ouvir gritos angustiantes do Ciúme:

- Corra! Saia daqui. Estou tentando contê-los.

Ele olhou para o lado de onde vinham os gritos e observou com atenção aquela cena. Eram brutamontes com uma cara horrenda que o Ciúme tentava segurar. Olhou para tudo ao seu redor e viu que alguns seres estavam acorrentados. A Sabedoria estava jogada em uma sarjeta enquanto a Inveja estava pendura no topo de uma construção, de forma que pudesse ser vista por todos. Em seguida, viu o Ciúme ser arremessado pelos brutamontes, caindo no chão sem forças para se levantar. Ele voltou a olhar para ela.

- Sinceridade, onde está o Tempo?

- Está perdido! Fugiu! Não passou por aqui. Ninguém sabe dele. Talvez esteja a buscar a ajuda, talvez esteja a lhe procurar – e chorando, insistiu – Vá embora!

O garoto começou a correr deixando a Sinceridade para trás. No fundo, ele queria ser pego. Era uma forma de saber melhor o que estava acontecendo e então, encontrar meios de mudar tudo aquilo.

Logo os brutamontes o alcançaram. Eles o amarraram e o levaram para o mentor de todo aquele drama, que se encontrava sentado em uma linda cadeira dourada, toda enfeitada por pedras coloridas. Era o Desamor! E estava com um sorriso satisfeito nos lábios.

- Como você pôde? – perguntou o garoto indignado, dirigindo-se ao Desamor – Você é parte de nós todos.

- Não, não sou. Eu sou diferente! Sou belo, sou melhor. Tenho pedras que nenhum de vocês podem ter. Quem me obedece, é muito bem recompensado. Os brutamontes sabem disso.

E o garoto, confiante, exclamou:

- O rio tem pedras!

- Tem mesmo? – respondeu o Desamor, gargalhando – Acho que não... Eu peguei todas que encontrei por lá.

E mudando o tom de voz para um tom ríspido e alto, o Desamor deu suas ordens:

- Levem isso daqui para bem longe e o destruam. Ele pode atrapalhar nossos planos.

Os brutamontes obedeceram, levando o garoto, que mantinha a calma e começou a pensar em uma maneira de se livrar daquela situação. E tudo o que ele podia fazer, no estado em que se encontrava, era falar.

- Quais são esses planos?

Em um primeiro momento, não ouve resposta. Ele insistiu.

- Ah, vamos lá! Apenas me digam quais são esses planos.

- Não sabemos.

- São planos do Desamor. Nem queremos saber, só queremos nossa recompensa.

Muito intrigante e sem sentido algum.

- E de que se trata essa recompensa?

- Pedras.

- E o que vocês fazem com as pedras?

E o silêncio voltou a reinar.

- Me digam: o que você fazem com as pedras?

E de repente, eles pararam. Largaram o garoto de lado e começaram a cochichar entre si. Nesse instante, o Tempo surgiu e se aproveitou da distração dos brutamontes para soltar as amarras de seu amigo.

Logo, os brutamontes perceberam a presença do Tempo. O viram desamarrar o garoto, mas nada fizeram para impedir. Era como se tudo aquilo não fizesse o menor sentido. E não fazia mesmo.

O garoto virou-se para o Tempo e falou-lhe:

- Obrigado, amigo. Fico feliz de saber que está salvo. Agora corra, como você nunca correu antes. Tente livrar os demais, a começar pelos que estão nas sarjetas. Eu tenho um trabalho a terminar com estes aqui.

Ele consentiu com a cabeça e seguiu. Na aldeia, todos viram o Tempo passando e sabiam que isso era um bom sinal. Enquanto isso, o garoto virou para o bando estático e lhes deu um belo sermão:

- Vocês não precisam daquelas pedras para nada! Podem simplesmente ser felizes. O rio sim, precisa das pedras... Para proporcionar diversão e contentamento aqueles que o visitam. Agora vão embora. Levem essa lição a todos os demais, como vocês. E libertem os meus amigos.

Os brutamontes o fizeram. E em instantes, todos estavam livres. Era uma explosão de sentimentos!

E o garoto, tudo o que queria naquele momento, era ver e abraçar a Sinceridade. Mas pressentindo que algum mal se aproximava, preferiu se distanciar do local e seguiu em direção ao rio. E foi então que a tragédia aconteceu.

O Desamor se misturou em meio a multidão, alcançou o garoto e cravou-lhe um punhal, pelas costas. Não houve tempo para reagir e se defender. E ninguém conseguiu segurar o Desamor – ele havia agido muito rápido.

O garoto sentiu o sangue subir pela garganta e ajoelhou-se. Todos os que presenciavam aquilo ficaram em estado de choque. Pouco a pouco, a multidão foi aumentando. Ele sentia que perdia os sentidos, enquanto olhava para o céu e o via mudando de cor. Sentia seu corpo tombar vagarosamente em direção ao chão. Quase sob total inconsciência, pôde ouvir os gritos de Sinceridade, que se aproximava, permitindo que ele caísse em seus braços.

- Deus, não vá! Não me deixe! Deus, você me ensinou tudo o que sei e eu não posso viver sem você. Você criou tudo o que eu sinto hoje, me disse para amar aos demais como a mim e sem perceber me ensinou muito mais além disso... Pois eu te amo acima de todas as coisas... Acima tudo e de qualquer outro sentimento. Deeeeus...

Naquele momento, a alma de Deus chorou de emoção. Ele percebeu que ela havia traduzido tudo aquilo que ele também sentia e não era capaz de revelar. E choveu durante seis dias, pois suas lágrimas não pararam de cair.

Após esse período, todo o mundo se criou como o conhecemos hoje. Deus não retirou nenhum dos sentimentos da humanidade. Todos deveriam aprender a lidar com eles, de uma maneira sábia. Ele sabe da vida. Sentiu tudo o que qualquer um pode sentir. Desde a inveja... Até a paixão.

Marina Casadei

"But they told me a man should be faithful and walk when not able and fight till the end, but I am only human" Michael Jackson

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando a Rede Globo e a vida se misturam

Uma das práticas mais absurdas com relação a mídia é o jornalismo que isola um caso de violência urbana até esgotar o assunto frente aos tantos mil casos da mesma violência que estão registrados em fontes seguras.

Um caso de negligência no trânsito foi recentemente apresentado e estressado pela Rede Globo, seguida pelas demais emissoras de TV. Na versão da história apresentada, trataria-se de um caso de assassinato! Simples assim.

No instante em que vi a notícia na minha casa, comentei “essa história está mal contada”.

Na mesma semana, descobri que uma colega minha era amiga do “réu”. Ela me contou a verdadeira versão da história, na qual uma seqüência de coincidências, seguidas por um acidente de trânsito, ocasionado em função da negligência de ambas as partes, levaram a tragédia. Além disso, ela ainda contou que o caso estava em tamanha evidência na TV porque um parente da vítima trabalhava na Rede Globo.

Algumas semanas depois, o caso caiu no esquecimento. Obviamente, depois de ter sido solucionado pela polícia, a TV não se atreveria a admitir para o Brasil inteiro que a versão deles "não era bem a verdade". Ainda mais porque um parente da vítima trabalhava na Rede Globo!

Quando pensei que ninguém mais tocaria no assunto, descobri que outra colega minha era amiga da vítima! Ela me contou a versão da família da vítima e como todos estavam revoltados e arrasados com tal tragédia. E confirmou ainda a existência do tal parente que trabalhava na Rede Globo.

Fiquei bege!

Mas apesar da ironia, meu objetivo com esse relato não é voltar a julgar o caso. Isso é trabalho da polícia. E se a polícia faz um bom trabalho ou não, isso já é problema do governo.

O meu papel nisso tudo é justamente cobrar do governo que o meu país, o meu estado e o meu município, sejam bem administrados. Que tenham um código penal eficaz e uma polícia ativa e coerente. Independente do que qualquer mídia fale.

Afinal, que país pode julgar um caso isolado de negligência no trânsito, quando esse mesmo país é consciente de que a escravidão e a exploração sexual estão tão próximas e nada se faz para mudar?

Todos nós somos réus e vítimas ao mesmo tempo. E nesse tribunal, o julgamento não deveria estar à mercê dos interesses da mídia. Principalmente quando não temos um parente que trabalha na Rede Globo para nos defender!

Marina Casadei
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Se todo mundo andasse pelado

Lembro-me de começar a questionar o uso de roupas quando tinha quinze anos. Desde que o assunto brotou em meus pensamentos, nunca mais deixou de vir à tona. Não que eu tenha saído por aí a expressar minha opinião... Mas o ato de questionar se tornou um hábito para mim, embora viva em uma sociedade onde predomina o conformismo.

Assim nascemos: desnudos, isentos de maldades, de ganância, de pudores morais, de conceito de certo e errado. E assim como nos colocam roupas sem explicar o que isso significa ou perguntar o que pensamos a respeito, valores são impostos em nossa vida, sem que possamos fazer nada para nos defender. As roupas são, tão somente, o primeiro ato do alienismo social.

E assim como as roupas são aceitas, aceita-se o “viver como reza a sociedade” sem se dar conta de que tudo poderia ser o avesso daquilo que é.

Não questionamos a disposição da sociedade, apesar de saber que há 300 anos vivíamos a Sociedade Estamental. Não questionamos nossa TV apesar de saber que o único objetivo dela é ganhar dinheiro. Não questionamos a Instituição Familiar, apesar de saber que, no passado, casava-se com primos para manter o dinheiro familiar. Não questionamos o uso de roupas apesar de saber que há apenas 500 anos vivia-se pelado no Brasil.

Parece até que vejo a sociedade do futuro usando máscaras coloridas, com estampas combinando com a roupa, com brilho e muito luxo. E a boca, então, será mais um órgão genital sem que ninguém se pergunte como, quando e porque é assim.

Se todo mundo andasse pelado, talvez fôssemos menos hipócritas, menos soberbos, menos falsos e alienados. Ou talvez, fosse tudo exatamente do jeito que é.

Esse meu pensamento pode soar um tanto agressivo e fora da realidade. Bem, para mim, conformismo é que é um ato fora da realidade. E a única coisa que me conforta é a certeza de que não sou a única louca no mundo, há pelo menos 2.500 anos.
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Marina Casadei


“Eu não posso entender tanta gente aceitando a mentira de que os sonhos desfazem aquilo que o padre falou. Porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo...”
Raul Seixas

“Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo prefiro acreditar no mundo do meu jeito...”
Renato Russo

"- Por que foi que cegamos?
- Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão.
- Queres que te diga o que penso.
- Diz.
- Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem.”
José Saramago

“Aquele que aceita alguma coisa da escrita como se ela pudesse ser clara e confiável, deve certamente possuir uma mente simplória”
Platão


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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ser ou estar


O verbo “ser” é uma incoerência das línguas latinas. Nada ou ninguém é. Tudo sempre está. Está branco, está sujo, está afim de curtir balada, está afim de encontrar alguém pra casar.

Aquilo que se é, é porque é imutável.

E o que é imutável no Universo?


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domingo, 31 de maio de 2009

Profissão

E ela mais uma vez estava lá
Saindo para trabalhar
Alma nua, cara lavada
Despida de todos os males
Vestida
De lingerie preta e bota de couro
Dirigi-se à esquina
E aguarda pelo turista
Louco por ela louca
Pelo dinheiro dele
Lá vai ela feliz e contente
Ela sabe o que está fazendo
Ela sabe do que é capaz
Ela gosta
Geme, grita, pula e fantasia
Faz tudo o que for preciso
Ela ama muito tudo isso
Que é tudo o que ela sabe
É só o que ela conhece
É mundo que ela vive
Não existe nada mais
Nada além
Nada aquém
Nada que a faça parar
Nada que a faça mudar
Nada. Ninguém. Não. Negativo.
Mudo
Passou
Outro dia chegou
E ela mais uma vez estava lá.





À Ana Paula,
por criticar àqueles que têm escolha.

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terça-feira, 21 de abril de 2009

Seja um eterno buscador

O que é a vida do homem senão a busca pelo seu sonho?
O ser humano vive em busca de algo que o satisfaça. É um insatisfeito por natureza! E essa insatisfação parece nunca ter fim visto que, quando se atinge o objeto de busca, uma nova busca tem início. É como o dia de amanhã, que nunca chega pois cede seu lugar, novamente, ao dia de hoje.

Aquele que desiste de buscar, quer por razão interior, como a falta de crença, ou exterior, como barreiras familiares ou sociais, é infeliz. Ele já não espera pelo dia de amanhã. Em outras palavras, ele para no tempo.

Mas afinal, se a infelicidade é a desistência e felicidade é a realização do sonho, em que estado de espírito vive constantemente o ser humano? Talvez possamos dizer que esqueceram de criar um terceiro estado que aqui vou traduzir como buscador.

Ou talvez, diríamos que a felicidade humana consiste justamente na busca. E para ser um eterno buscador é preciso acreditar que seu sonho é possível como é tão certo que o dia de hoje precede o amanhã.
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Marina Casadei
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Não sei o que quero. Não sei do que tenho medo. Não sei nem aonde estou, nem se estou em algum lugar. Só sei, que o quer que seja, sempre serei eu. Sempre serei livre. Sempre serei um espírito em buca do meu caminho.
(Marina Casadei)
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"Nunca diga a uma criança que sonhos são bobagens. Seria uma tragédia se ela acreditasse nisso."
(autoria desconhecida)
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segunda-feira, 30 de março de 2009

E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?

Por que as pessoas têm medo de amar? Pior, têm medo de demonstrar quando amam? Tanto na televisão, como em meu meio social, já ouvi muitos conselhos que dizem que não devemos falar o que sentimos porque quando declaramos um amor, estamos confinados ao sofrimento, visto que nosso(a) parceiro(a) irá nos atacar em função disso.

Mas será que agir com frieza evita esse tipo de atitude? Será que é isso que buscamos em nossa vida: um relacionamento frio, no qual um está medindo seus passos em relação ao outro, e vice-versa? Será que queremos que dure para sempre um relacionamento frio? Será que o que nós queremos é viver ao lado de alguém se sentindo acompanhados só de nós mesmos?

Esse tipo de pensamento é oriundo de experiências amorosas frustrantes e dolorosas. É preferível se culpar por ter amado do que aceitar a realidade de que amar não é suficiente. As pessoas, cada uma em sua individualidade, necessitam de outras coisas além do amor e isso está fora do alcance de seus parceiros(as).

Há alguns anos atrás, diziam para o amor não ser eterno, posto que é chama, mas para ser infinito enquanto dure. E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?

Aos mestres Vinícius e Renato, obrigada por tornarem suas palavras conhecidas.

domingo, 8 de março de 2009

Estamos na Era dos Títulos!

Em meu primeiro estágio, há quatro anos atrás, me acostumei a ouvir meu chefe dizer que estamos na Era do Conhecimento e que conhecimento poderia ser entendido como o resultado da informação internalizada em conjunto com a experiência do indivíduo.

Ao longo da minha carreira universitária, fiz desse conceito o meu principal valor: enxerguei em cada aula a oportunidade de aprender algo novo de mão beijada, cada seminário como a chance única de treinar minha habilidade de comunicação e cada pesquisa como um presente que me permitia agregar valor a mim. Eu vivi intensamente cada gráfico, cada texto, cada apresentação em PowerPoint que eu construí.

E em meus estágios não foi diferente: em cada tarefa delegada via oportunidade de transformar o meio ao meu redor, otimizar, melhorar a qualidade e destruir barreiras. E não posso negar que sempre fui reconhecida pelos meus superiores como uma profissional de alto potencial e cheia de vontade.

Procurei estagiar em diferentes empresas. Públicas, privadas, multinacionais de várias origens, exercendo funções diferentes em áreas diferentes. A razão de tanta variedade era principalmente a busca pelo novo, por tarefas que me trouxessem mais conhecimento e me dessem a chance de agregar mais valor àquele meio. Quando percebia que esses precedentes haviam se esgotado, sabia que era hora de mudar de novo. Afinal, estávamos na Era do Conhecimento.

Mas a verdade é que meu primeiro chefe se enganou! Nós estamos na Era dos Títulos. Uma Era em que o importante são os títulos que você carrega, tais como o nome de sua faculdade, seus cursos extra-curriculares, o nome do cargo que você ocupou independente do que realmente fazia, o tempo de experiência, independente do valor que você agregou ao meio ou a si mesmo.

E por experiência própria posso garantir que é muito difícil fazer as duas coisas ao mesmo: agregar títulos e conhecimento, pois o conhecimento que cada título tem a oferecer é limitado e eu não podia parar frente a essa limitação.

O resultado disso é que hoje me sinto fora da sociedade trabalhista. Meu currículo não possui os títulos exigidos pelo mercado e meus valores assustam os níveis gerenciais. Além disso, existe a questão emocional, que me impede de me atirar de cabeça na Era dos Títulos.

Eh, Eugenio*! Parece que eu fiz a escolha errada.

Se você ler essa declaração, quero aproveitar para desejar ainda mais sucesso à sua carreira. Assim, quando você persuadir 50% mais 1 dos executivos do Brasil, eu poderei olhar para trás e dizer com todo o orgulho e respeito do mundo: obrigada por ter arruinado minha vida primeiro.

Marina Casadei
Universitária


*Eugenio: professor-doutor respeitadíssimo em consultoria de empresas, principamente na área de Recursos Humanos (Eugenio Mussak)