quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Luz, câmera, ação

Luz, câmera, ação
Começa o filme da vida
A morte perde a razão
A lua fica escondida
O sol não olha pro chão
A chuva esbraveja alegria
O álcool não vale um tostão
O vento remexe a farinha
O fogo aquece o carvão
A chaleira descansa na pia
O gato provoca o cão
O galo compõe a cantiga
O lenhador afia o facão
Joana lava a cozinha
Os móveis estão no porão
A boneca espera a menina
O gado belisca a ração
A arma não é da polícia
O bandido seqüestra João
O mocinho salva Maria
A palma bate na mão
O palco fecha a cortina.



Marina Casadei
É só o amor, é só o amor, que conhece o que é verdade.


Não, não estou apaixonada. Não da forma como vocês estão pensando. É bom sentir que seguimos a luz de algo maior que nós mesmos. E que entre decepções e frustrações, não estamos sozinhos nessa batalha. A cada dia que passa, chegamos mais próximos do nosso chamado e é isso que renova nosso amor.  E não poderia ser diferente... ao menos, para os buscadores.


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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Todo dia é o mesmo dia (...)

A vida é tão tacanha
Nada novo sob o sol
Tem que se esconder no escuro
Quem na luz se banha
Por debaixo do lençol...


Acabei e enviar um e-mail para um cidadão do qual eu discordava do ponto de vista político. Mas mais do que discordar de uma mera opinião, eu discordava da forma como ele se expressava: por meio do deboche, através de um português altamente qualificado (diria que mais de 50% dos brasileiros sequer entenderiam o texto) e de uma aparente raiva. Simplesmente pensei que “essa não deveria ser uma disputa de times”.

Nessa terra a dor é grande
A ambição pequena
Carnaval e futebol

O conformismo impera. A mídia promove ainda mais alienismo. Cada dia, mais e mais pessoas se acostumam a ouvir no jornal que um estuprador que fez mais de 40 vítimas ficou apenas 24 horas preso e foi liberado em seguida pois a Justiça Eleitoral proíbe prisões até cinco dias antes da eleição. Hum... a Justiça Eleitoral não deveria proibir a prática dos crimes também? Alguém quer se juntar a mim para um protesto solicitando essa emenda na lei? Ou, melhor, podemos promover um arrastão nas maiores grifes do país já que ninguém pode prender a gente mesmo! Ou ainda, podemos ignorar tudo isso e assistir a novela. Ah, esqueci, fazemos isso naturalmente!

Quem não finge
Quem não mente
Quem mais goza e pena
É que serve de farol...

Renato Russo dizia que queria entender porque é mais forte quem sabe mentir. Existem aqueles que se expõem por opção, por querer algum título ou atenção. Mas, em geral, os expostos são aqueles que carregam alguma verdade dentro de si. Que são transparentes e não temem a retaliação da sociedade. Que lutam por algo em que acreditam. As vezes, têm sua inocência usurpada.

Existe alguém em nós
Em muitos dentre nós
Esse alguém
Que brilha mais do que
Milhões de sóis
E que a escuridão
Conhece também...

Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você
De mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim...

Toda noite é a mesma noite
A vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber
Com quem você se deita
Nada pode prosperar...

Os reality shows estão bombando! Inclusive em meio àquele grupo que se diz mais intelectualizado, elitista. É muito mais interessante saber quem está transando com quem na Ilha de Caras do que tentar desenvolver alguma consciência, algum pensamento próprio, uma ideologia, ler um livro, criticar um pouco nossa realidade e se questionar. E olha que nem precisaria sair de casa para fazer isso. O pensamento é o princípio de qualquer palavra ou ação.

É domingo, é fevereiro
É sete de setembro
Futebol e carnaval
Nada muda, é tudo escuro
Até onde eu me lembro
Uma dor que é sempre igual...

Existe alguém em nós
Em muitos dentre nós
Esse alguém
Que brilha mais do que
Milhões de sóis
E que a escuridão
Conhece também...

As vezes, quando a crise existencial bate forte, me pego pensando que não quero ter filhos em uma sociedade tão barata. Hoje, acredito ser uma questão da humanidade – e não mais de cultura, ou do país. Enganamos, roubamos, tiramos vantagem. Perdemos nossa função social. Desonramos o código de ética da nossa profissão. Tiramos vantagem do leigo, mesmo sabendo que todos somos leigos em alguma coisa. Algumas culturas mais e outras menos, claro. Mas toda a humanidade vem praticando isso diretamente ou por cumplicidade.

Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você
De mim
Que grita para quem quiser ouvir
Quando canta assim...

Êta! Êta, êta, êta
É a lua, é o sol, é a luz de Tiêta
Êta, êta


Marina Casadei


Música Luz de Tiêta, de Caetano Veloso, ao batuque do Olodum – ouçam, vale a pena.
Mais uma vez, citando Renato Russo, música Eu sei.
A notícia a respeito do criminoso liberado foi dada no dia 27-out, jornal do meio-dia da Rede Globo, aproximadamente às 12h30
Não citarei o nome do cidadão para quem enviei o e-mail, mas é referente a matéria publicada na Revista Época de 25-out, chamada “O manifesto da desonestidade intelectual”.
Tampouco, vou dar meu posicionamento político. Essa, definitivamente, não é uma disputa de times.

domingo, 15 de agosto de 2010

Amostra de poesia

Quando criei o blog, fui motivada pela descoberta de quem eu era anos atrás.
Decidi voltar a escrever, algo que já não fazia há seis anos. Decidi que tudo que publicaria seria criação nova, pois temia me tornar escrava do passado e a idéia era justamente voltar a produzir.

Bem... Voltei a produzir. Mas as novas criações pertencem a minha atual realidade. O que era do passado, continuou guardado.

Resolvi tirar algumas amostras do baú.


Anseios
O mar é uma fuga
Para quem foge do transtorno
A dança é lágrima de quem já não a tem
O pano encobre formalidades do mundo que a possuiu
A beleza é vista em seu oposto por culpa do velho costume
A beleza, então, é sonhada
Como súplica da alma, disfarce da amargura
O mar físico tranqüiliza
Mas a vida formal continua pedinte de um abraço
Nesse momento, quero esquecer que sou humana
Ser alma, pó, delírio.


Marina Casadei, em 17 de abril de 2001

O peixinho do céu

Um peixinho criou asas
Criou asas e voou
Para o intenso azul do céu
Onde é o mar que ele sonhou
Quanto a sua natureza
Ele não se preocupou
Só queria a aventura
E no céu se aventurou
Sem pensar nas atitudes
Com a vida ele brincou
Contra todos ele agiu
Contra o vento ele voou
Percebendo a solidão
Passarinhos procurou
Não achou nenhum igual
Com amigos não ficou
O peixinho arrependeu-se
Já sabendo onde errou
Sem esperar um só minuto
Para o mar ele voltou
Chegando, percebeu
Sua natureza, ele trocou
Sem céu, também sem mar
Sem lugar ele ficou
Mas sabia o que fazer
E no mar se afogou
O lugar onde viveu
O intenso azul que amou
Como o mar também sentia
Seu amor o perdoou
E o peixe inconformado
Pela morte suplicou
Virando anjo do mar
Ali continuou
Protegendo suas águas
Onde a vida o colocou.



Marina Casadei, em 07 de fevereiro de 2001.

Saudade de ser poeta

Que saudade tenho do tempo que eu era poeta
Inocente, alegre, otimista
Sem muitas escolhas
Sem auto-piedade
Sem muita teoria pra me indignar

Que saudade tenho do tempo que eu tinha certeza
Sem saber porquê
Sem saber pra onde
Sem saber de quê
Eu tinha certeza daquilo que eu era convicta

Que saudade tenho do tempo que nada sabia
Nada sabia da vida
Nada sabia da morte
Nada sabia do amor
Naquele tempo, era mais fácil sonhar

Que saudade tenho do tempo que nem vi passar
Pessoas vieram
Pessoas se foram
Quando foi mesmo?
Nada mudou desde então.

Marina Casadei, hoje.
A recordação e a saudade são puramente sinceras.

Cálida lembrança

Que a lua testemunhe minha clama perdida
De chamar em vão um nome falso
Que um dia alguém ouça esta prova
De um mar que sem água existia

Minha alma pede, implora, sufoca
Que esquecida seja tal viagem
Onde um barco se destruía em tempestade
Onde a lua aquecia a areia

Mar doce, seco e abandonado
Me ouça, me ajude, me carregue
Use a tempestade pra banhar-se
E naufrague meu barco em tuas águas

Que termine deste jeito esta viagem
Num naufrágio, e que eu descanse na areia
Que inexistente, seja o mar esquecido
Mas que lembre a lua minha história de tristeza

Marina Casadei, em 02 de março de 2001

Noite e dia

Toda noite
Lá no céu
Tenho um sonho
Com você
Todo dia
Aqui na Terra
Vivo a vida
Com você
E todo dia
Lá no céu
Sonho a vida
Com você
E toda noite
Aqui na Terra
Vivo um sonho
Com você


Marina Casadei, em 16 de julho de 1998

domingo, 25 de julho de 2010

A Visão

Hoje ouvi a seguinte a expressão:

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"a diferença entre um ponto e ele mesmo é a forma como ele é visto"

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Expressão esta que, a meu ver, reforça a teoria da relatividade.

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No instante e na circunstância em que ouvi, dei um breve passeio pelas minhas memórias e lembrei certo momento em minha vida no qual ela cairia perfeitamente.
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Certa vez, um amigo meu resolveu me testar. Éramos muito crianças ainda e ele estava bastante inseguro com relação ao julgamento que eu poderia fazer da sua própria vida. Ele me convidou para acompanhá-lo a resolver um problema e enquanto ele tratava da burocracia, fui dar uma volta. Combinamos de nos encontrar 15 minutos depois e ficamos mais de uma hora esperando um ao outro. A praça onde marcamos de nos encontrar era redonda. Eu fiquei parada atrás de uma pilastra acreditando que, por alguma razão, ele havia ido embora sem mim. Ele estava na outra pilastra, acreditando que eu havia ido embora, fugido dele pelo motivo que ele estava ali, me testando.
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Eu nunca teria perdoado se ele me largasse em um lugar desconhecido, àquela altura da noite. Ele, jamais me perdoaria se confirmasse sua insegurança. E mesmo com a certeza de que havíamos sido abandonados, continuamos esperando.
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Depois de voltar desse devaneio, tive que encarar mais uma vez o fato de que não importa quem somos, ou ainda, quem parecemos ser. Sempre seremos aquilo que o observador quiser. O tímido para alguns, é metido para os outros; o inteligente, é arrogante; o engraçado, é imaturo; o vaidoso, é fresco; e por aí vai. Todos somos humanos e assim, oscilamos em nosso comportamento. Por isso mesmo, se quisermos ver algo (bom ou ruim) em alguém, vamos encontrar uma forma para isso.
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E era exatamente isso que eu vivia na forma de um pedido para ser mais séria! Bem, quem me conhece, sabe o quão séria eu sou. Não preciso provar isso – definitivamente, não preciso.
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E assim, me senti inválida diante dos olhos do mundo e do julgamento da humanidade. O que eu podia fazer? Nada. Nada, além de cuidar para que a minha visão não fosse doente como a dele.
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Ao chegar em casa, recebi um texto que falava exatamente sobre a forma de ver as coisas. Os olhos do poeta que vê poesia onde qualquer um veria pedra. E depois disso, fui arrebata por um turbilhão de pensamentos. E me deixei levar.
 
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“parecer é mais importante que ser” Platão
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“nos deram espelhos e vimos um mundo doente” Renato Russo

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“Cegos que vendo, não vêem” Saramago
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“Se você tiver que lembrar alguém que você é, você não é” Margaret Thatcher
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“Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém” Renato Russo


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Trechos diversos que considero axiomas das minhas crenças, muitos deles já citados aqui.
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E aquela espera que existiu entre eu e o meu amigo, poderia ser um abandono, poderia ser um ato de preconceito, de fraqueza, poderia ser um ato de falta de maturidade ou consideração. Mas independente de todos estes modos de ver aquele momento, nós fizemos a única coisa que deveríamos fazer um pelo outro: esperamos. Incondicionalmente, esperamos.
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É por isso que eu gosto de dizer dele alguém que o acaso provou ser muito mais do que um amigo, porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos, nem fomos mais do que crianças.
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Essa sou eu. Poeta, sonhadora. E é justamente por isso que esse mesmo alguém me chamou Marina, a garota que sonhava.

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Marina Casadei
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F. Pessoa, a quem me atrevo a utilizar as palavras para completar minhas expressões
R. Russo, pela magnitude que não sou capaz de descrever o quão suprema é
A. Ferreira, pelo texto cuja oportuna coincidência me inspirou a escrever
Thiago, pelo amor incondicional
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E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, a outra metade também.
Oswaldo Montenegro

domingo, 13 de junho de 2010

Dia de Santo Antonio: "desejo da mulher moderna"

Eu quero sete maridos
Um pra cada dia da semana
Na segunda, pra fazer compras comigo
Na terça quero ir ao cinema
Na quarta, quero café na cama
Frutas, torradas e suco de laranja
Na quinta, quero massagem
Na sexta, é dia de luau
Queijo, vinho e amigos numa roda
Sábado é dia de balada
Ouvir rock na noite paulista
No domingo, quero ler um livro
Assistir um filme e discutir
Sobre os mistérios entre o céu e a terra
Não quero dinheiro
Não busco estabilidade ou segurança
Tudo o que quero é um marido
Pra cada dia da semana
O primeiro pra cuidar da casa
O segundo pra dar risada
O terceiro pra provar que me ama
O quarto pra me fazer sentir mulher
O quinto pra me encantar como um príncipe
O sexto pra me distrair
O sétimo pra completar meu espírito
Não quero amar ninguém
Não quero ciúmes, não quero briga
Só o que quero é um marido
Um marido pra cada dia.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quando uma idéia passa, uma idéia passa

Hoje comecei meu momento escrito rasgando a página do caderno dizendo “já era, quando uma idéia passa, uma idéia passa” .
Isso porque essa página continha anotações para um conto que eu não tive tempo de escrever. Talvez ficasse bom, talvez fosse uma droga. Costumo gostar de cerca de ¼ daquilo que escrevo.
As vezes, parece que a idéia tem seu tempo certo de maturação. Se nasce antes do tempo, não aflora e morre por falta de conteúdo. Se passa do ponto, nunca mais volta. Como o vento mais sublime que sopra, ou como a água que derramamos no chão, ou como amores de verão que deixamos de viver e nunca mais reencontramos.
É muito clichê falar da vida como Carpe Diem. Mas a verdade é que nada volta. Ao mesmo tempo, não podemos permitir que esse axioma torne nossa vida fútil.
O tempo não é uma esfera que dá voltas, mas sim, uma reta infinda e sem segunda dimensão e é por isso que qualquer estudo sobre universos paralelos é inútil.
Eu só me arrependo das lágrimas que deixei de derramar. 

Marina Casadei

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Rosa

Já não posso compreender 
Esse vazio que me corrói por dentro
Cegando meu desejo louco
De provar do teu doce veneno
Essa inquietude do meu espírito
Me move para o desconhecido
Com medo do que possa encontrar
Diante dos meus olhos cegos
Mas cegos não de cegueira ou de paixão
E sim de uma luxúria conivente
Com o estado inerte que me encontro agora
Não é de amor que quero falar
Tampouco de política ou tragédias
Nem poesia ou hipocrisia
Que parafraseia, eufêmica, nossa vida moderna
Quero falar de uma escolha
De um momento
De um desejo que anseio desconhecido
E que nunca fui buscar em tantos anos de história
Os pilares, raízes, os alicerces da vida
Um espírito inundado de belos sentimentos
E lembranças tristes da estrada de ladrilhos
Um sol que arde e queima a superfície árida
Dos desertos mais escaldantes
Brota uma rosa vermelha escarlate
É apenas um botão
Cheio de vida
E de néctar. 



domingo, 10 de janeiro de 2010

Samba

Choro não porque quero
Ou porque devo
Choro porque não resta
Mais nada
Choro vilões que
Mudam de nome
Choro a ganância
Domou a ética
Choro a natureza
Se rebelou
Choro porque só sei chorar

Eu poderia estar roubando
Poderia estar matando
Mas estou aqui
Humildemente
Chorando

Choro porque sorrir
É debochar
De um mundo que destrói
Seus horizontes
Choro a cura que
Não tem propósito
Choro Deus tem
Conta bancária
Choro a imagem que
Se perdeu
Choro líderes
Que não sabem nada

As crianças estão brincando
Os fiéis estão rezando
E o samba está aqui
Humildemente
Chorando 


Marina Casadei