Recentemente,
curti uma publicação no Facebook que falava sobre os livros de George Orwell e
Adous Huxley, 1984 e Admirável Mundo Novo, respectivamente.
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Estes livros
afetaram meu senso de observação do mundo e, principalmente, meu gosto pela
leitura, porque depois deles, ficou difícil apreciar outras obras de ficção. Eu
era uma pessoa inconformada mesmo antes dos livros, mas estas obras me ajudaram
a construir com maior clareza aquilo que já enxergava de maneira subconsciente.
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Sobre o
1984, ele traz dois conceitos principais: o primeiro é o culto ao ódio. O fato
de que o governo estimula o ódio entre as pessoas para que um fiscalize o
outro. Pais, filhos, maridos, esposas, se veem como inimigos uns dos outros e
fazem denúncias se percebem algo estranho. O segundo é a manipulação da
imprensa. Na história, o personagem principal trabalha justamente no órgão do
governo que faz a alteração dos jornais do passado. Ou seja, o governo manipula
os registros do passado da maneira como bem entende e, por vezes, lança em um dia
a notícia inversa ao que divulgou no dia anterior. As pessoas estão tão habituadas ao
fato de que tudo muda o tempo todo e acreditam que tudo o que o governo diz é verdade
absoluta e incontestável, que elas
NÃO PERCEBEM as mudanças, por mais repentinas que elas sejam.
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Sobre o
Admirável Mundo Novo, a obra apresenta um mundo onde todos são felizes fazendo
exatamente o que fazem, desde o faxineiro até os cientistas, pois foram
doutrinados para aquilo desde o nascimento. O novo mundo também induz ao sexo
indiscriminado e uso de entorpecentes, pois são maneiras eficazes de manter a
mente humana distante de rebeldias e questionamentos em geral. A instituição
familiar deixa de existir. Qualquer laço afetivo com um amigo um pouco mais íntimo
é mal visto. Impera a futilidade das relações. E, por fim e no ponto que eu
queria chegar, há um estímulo muito grande à prática de esportes que gerem
consumo. Todos os jogos precisam de alguma maneira gerar consumo; precisam
fazer uso de algum equipamento ou acessório que se perca durante o jogo,
obrigando as pessoas a estarem sempre comprando. Esportes que façam uso de
material duradouro ou ainda, que não precise de acessório algum (roupas
especiais, rede, raquete, etc.) são extintos.
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A esta
altura do campeonato, mentes inconformadas já compreenderam a mensagem que eu
quero expressar. Para aqueles que ainda estão em dúvida, peço que sigam lendo o
artigo.
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Quero deixar
claro que não estou aqui para puxar nada para lado nenhum. Quero simplesmente
chamar a atenção para fatos presentes que ninguém percebe.
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No mês de
novembro de 2014, lembro de ver uma reportagem na rede globo falando da
operação Lava Jato, na qual o digníssimo Willian Bonner citava o nome de uma
lista de políticos envolvidos no escândalo e, toda vez que ele citava o nome de
um político do PT, ele fazia questão de dizer “Fulano do PT” e quando ele
citava o nome de um político de outro partido, ele simplesmente falava o nome,
sem citar o partido. Embora eu não tenha visto nenhum tipo de repercussão nem
mesmo nas redes sociais, eu acho que houve algum processo a esse respeito, pois
nunca mais aconteceu algo do tipo. Eu lembro ainda que foi a rede globo que
expôs em rede nacional aquele gráfico ridículo com o mapa do Brasil salientando
os estados onde o PT venceu e onde o PSDB venceu a última eleição, ignorando o
fato de que nosso voto é por cidadão e não por estado – eu lembro que no instante em que vi aquilo a
revolta me corroeu por dentro. Depois percebi nas redes sociais que eu não senti
isso sozinha, pois as críticas foram muitas, inclusive provando a quem soubesse
matemática que, em números, o PT recebeu mais votos na região sudeste do que em
qualquer outra. Lembro ainda que desde essa época já se falava de impeachment e
lembro ainda que a Dilma deu uma entrevista ao Willian Bonner, na qual ele
chegou ao extremo de se exaltar com ela (Bonner, vc é tão bom ator quanto
jornalista – já pensou em trabalhar em alguma novela?) alegando que ela não
havia respondido uma pergunta. No instante em que ele falou isso, a presidente
disse claramente “a primeira coisa que eu te respondi foi a sua pergunta, e a
resposta foi ‘não, a situação da saúde pública não é satisfatória’ ”. O mais
engraçado foi o efeito que isso teve na sociedade: em todos os lugares, na
academia, no trabalho, na rua, eu via as pessoas comentarem, mesmo a título de
piada, que a Dilma não respondeu as perguntas do Bonner. Meu Deus... Olha o
1984 acontecendo bem no meu nariz! Minha gente, eu NÃO estou dizendo que as
respostas da Dilma foram satisfatórias ou que apoio o governo dela, ou que acho
que é golpe! Mas a Dilma respondeu as perguntas do Bonner SIM. É uma questão de
semântica, de compreensão da língua portuguesa. Ela respondeu! É claro que toda
resposta vinha emendada de uma propaganda de seu próprio governo, COMO TODO
POLÍTICO FAZ, mas há uma divisão entre a resposta das perguntas e a propaganda.
Se não acredita, faça um exercício sincero: procure a entrevista no youtube,
transcreva pergunta e resposta (eu não vou fazer isso para você) e peça que
outra pessoa leia. Não conte a pessoa do que se trata, omita o nome dos atores
dessa entrevista e peça uma opinião neutra. É só um desafio, não para provar
que o lado vermelhinho está certo, mas para provar a rede globo faz o que bem
entende com a cabeça das pessoas e ninguém percebe.
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Agora
deixando a política de lado, pois a essa altura certamente tem gente querendo
me pendurar no tronco e me açoitar em praça pública (é isso que tenho ouvido
colegas dizerem que deveria acontecer com quem tem opinião favorável ao
governo... E embora eu esteja declarando não escolher um lado, assim me rotulam
de qualquer forma), eu gostaria de chamar a atenção para uma série de coisas que
têm acontecido na sociedade e que temos uma posição absurdamente passiva diante
delas – apesar de agora o “gigante ter acordado”.
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O primeiro é
o desleixo na nossa classe médica. Na atual conjuntura, eu teria muito mais
vergonha de ter essa profissão do que orgulho. Hoje, você luta para encontrar
um médico na faixa etária dos 50, pois você ainda pode confiar nessa turma. Não
porque eles têm experiência, mas porque vêm de uma época onde essa profissão
era honrada. Hoje, é uma profissão vendida a campanhas baratas (ou caras…) de
laboratórios farmacêuticos. Hoje, você chega no PS com uma infecção de
garganta, secreção amarela e até febre e o médico tem a cara de pau de falar na
sua cara que isso não quer dizer que você precisa de antibiótico. Ele te
receita um corticoide, que te acomete a uma série de efeitos colaterais graves.
Ainda que você diga que não pode tomar corticoide, que tem problemas no
aparelho digestivo, ele insiste. Quando o médico receita o antibiótico, após no
mínimo a sua segunda visita ao PS (é o protocolo, não importa o seu estado,
eles só irão te receitar o antibiótico na segunda visita), ele não receita a
boa e velha amoxilina, que custa algo próximo aos sessenta reais. Ele receita
um antibiótico caríssimo, que custa na casa dos cento e oitenta reais porque
sabe que você vai acabar comprando. Eu nunca entendi porque os médicos precisam
saber nossa profissão, mas quer saber, assumo o compromisso público com meu
leitor de me declarar auxiliar de limpeza quando for ao PS da próxima vez...
Vamos ver se consigo uma medicação mais em conta. É frequente os médicos
receitarem medicamentos novos, que a gente chega ao ponto de ter dificuldade
para encontrar, quando na verdade tem uma série de medicamentos maduros e mais
baratos que fariam o mesmo efeito. Claro... O medicamento novo traz uma série
de benefícios ao médico, ao laboratório e ao paciente... Ops, o paciente que se
exploda! O paciente é usado como cobaia sem autorização – no mínimo, para ser
uma prática honesta, o médico deveria nos dar a opção de usar um medicamento maduro
ou outro novo que promete algum benefício maior. A opção deveria ser do
paciente. O corpo é do paciente. Isso que médicos têm feito é abuso de poder
intelectual, por serem detentores do conhecimento, é abuso de poder legal
porque hoje não podemos comprar nossa própria amoxilina (interesse de quem?) e
é cruel. A história que vivi no PS e que retratei aqui de maneira indireta é
real e não foi minha única experiência do tipo – tenho histórico de problemas
com médicos desde pelo menos meus dez anos. E conheço muita gente com
reclamações semelhantes ou ainda indignadas com a falta de competência.
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Alguma
semelhança com o que fazem no Admirável Mundo Novo com os esportes? Vou
construir a semelhança: os médicos, hospitais, laboratórios, têm intenção de
nos manter doentes para gerarmos o máximo de lucro a eles, ou ainda, de nos
gerarem mais doenças, receitando corticoide para infecções, por exemplo, nos
obrigando a tomar antibióticos ainda mais fortes a partir da segunda consulta e
acrescentando ao nosso coquetel outras medicações para o aparelho digestivo, para tratar o mal que o corticoide faz. E antes que me acusem de
qualquer outra coisa, não é teoria da conspiração. Está acontecendo bem no
nosso nariz e ninguém enxerga, como no 1984, onde nutriam o ódio entre as
pessoas sem ninguém perceber e alteravam os jornais do passado.
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Falemos
agora do adorável trânsito da cidade de São Paulo.
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Eu não estou
vendo nenhum tipo de melhoria nas nossas avenidas, ou ponto de ônibus ou
melhorias em geral ao transporte coletivo apesar da arrecadação absurda com a
tolerância zero da aplicação de multas. Eu moro em uma quadra repleta de
prédios e os prédios por aqui são populares, então têm apenas uma vaga. Muita
gente hoje tem dois carros porque precisam ter – e não porque estejam jogando
dinheiro fora. E por aqui, as ruas ficam repletas de carros estacionados. Havia
uma época em que parávamos em cima da calçada para facilitar a passagem dos
carros pela rua, porque não passam pedestres por aqui, já que as ruas não têm
absolutamente nenhum comércio, a entrada das casas e prédios são voltadas a rua
principal e as ruas são sem saída. E, então, a CET passou a ser frequentadora
da região para multar os veículos em cima da calçada ou que param na contra
mão, ainda que isso não prejudique nenhum pedestre. Quando a CET vem, eles vêm
por volta das 06h10 da manhã, com a maldade de pegar o pessoal antes de todo
mundo sair para trabalhar. O que eu acho mais irônico nisso tudo é que eu nunca
cruzei com uma ronda policial na região. Eu saio de casa muito cedo, com as
ruas desertas, com o pavor de ser violentada no terreno baldio que tem no fundo
das tais ruas sem saída, onde não tem nenhum comércio, residência, portaria de
prédio, ninguém a quem eu possa pedir socorro. Eu nunca cruzei com uma ronda
policial que possa me proporcionar algum tipo de segurança, mas já cruzei
diversas vezes com a CET, multando os veículos que não prejudicam ninguém.
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Os dois relatos
que coloquei aqui já me estimulam ódio o bastante para querer sumir desse país,
mas eu ainda tenho mais.
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Casamento
gay não é algo passível de opinião. Precisa ser aprovado, doa a quem doer. Quando
eu era criança, na minha ingenuidade, eu já pensava sobre casamento em grupo,
ou entre amigos do mesmo sexo, não pelo sexo carnal presente numa relação de
casal, mas pela legalidade que esse contrato representa. Divisão de bens,
direitos para acompanhar a outros países, compromisso de cuidados, de suporte,
de doação de um para outro. Por que eu tenho que ser legalmente ligada somente
a minha família biológica e um eventual marido? Eu não posso registrar
legalmente a família que construí com meus amigos? Não faz sentido.
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Descriminalização
do aborto. Os motivos são tão óbvios que chega a ser redundância elencar. Mas
vamos lá: hoje falamos em descriminalização, em vez de liberação, porque todo
mundo sabe que acontece, independente de lei. Todo mundo já sabe que é uma
questão social, visto que a classe A faz aborto legalizado nos EUA, a classe B
faz aborto clandestino com um médico formado e a classe C e inferior faz do
jeito que for. Com um açougueiro, com drogas ilícitas, dilacerando seus úteros
com químicas, mas fazem. Aqueles que não fazem mas queriam muito ter feito,
certamente farão dessa criança uma escrava de sua própria rejeição. Até o Dr.
Drauzio Varella, que é talvez a única figura que eu ainda respeite na rede
globo, é a favor. Descriminalizar o aborto não significa obrigar alguém a
fazer. Simplesmente dá a pessoa liberdade de escolher. Optar por um aborto não
é uma escolha que mulher nenhuma faz com prazer. É uma escolha difícil, que
traumatiza pelo resto da vida e dói, dói na alma – então não condene essa
mulher. E se a questão é divina, religiosa, então sejamos coerentes: vamos
impor a religião desse país que se diz livre e moderno, mas tem cérebro de
amendoim.
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Eu ainda
poderia falar sobre outras ideias subversivas que tenho, tais como a
flexibilização das leis trabalhistas (e aí, sou petista ou coxinha agora),
estudante de escola pública pagar meia na universidade particular, leis penais
mais severas sim, polícia intelectualmente mais preparada (o curso deveria ser
universitário e o PM deveria ter título de doutor, assim como os médicos,
embora estes não façam jus), aula de cidadania, consciência coletiva, bom
senso, amor ao próximo, durante a escolaridade regular.
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Para cada um destes
itens eu poderia escrever um artigo inteiro. Mas vou ficando por aqui, nutrindo a infeliz esperança de que um dia o gigante realmente acorde.
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Marina Casadei